O secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia, anunciou nesta quinta-feira (14) que a cúpula de chefes de Estado da Conferência do Clima da ONU, prevista para ocorrer em Belém, foi antecipada para 6 e 7 de novembro — quatro dias antes do início da programação oficial, que segue marcada para 10 a 21 de novembro. A decisão, inédita na história das COPs, tem como objetivo criar um espaço de "reflexão com mais tranquilidade" para os líderes globais, longe das pressões logísticas e do ritmo acelerado do evento principal.
Segundo Correia, a separação do segmento de alto nível do restante da conferência permitirá que os debates entre presidentes, primeiros-ministros e representantes de Estado ocorram em um ambiente "menos caótico". "A antecipação ajuda a organizar melhor a abertura da COP, sem a pressão da rede hoteleira lotada ou do fluxo intenso de participantes na cidade. Queremos que os líderes tragam diretrizes claras para impulsionar as negociações técnicas", explicou.
Mudança estratégica
Nas edições anteriores, os discursos dos chefes de Estado aconteciam nos primeiros dias da programação oficial. Agora, pela primeira vez, a cúpula funcionará como um evento independente. Nesses dois dias, os líderes apresentarão as posições nacionais sobre temas como redução de emissões, financiamento climático a países pobres e transição energética. Suas declarações servirão de base para as discussões técnicas que dominarão as duas semanas seguintes. A mudança também visa aliviar a demanda por infraestrutura em Belém, que receberá cerca de 50 mil pessoas durante a COP30. Com a antecipação, espera-se reduzir sobrecarga em hotéis, vias públicas e sistemas de segurança.
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Contexto e desafios
A COP30, primeira edição da conferência climática da ONU a ser sediada na Amazônia, é considerada crucial para renovar metas globais de combate ao aquecimento global. O encontro ocorrerá cinco anos após o Acordo de Paris e em um cenário de crises ambientais agravadas, como incêndios florestais recordes e o colapso de ecossistemas. A decisão de separar a cúpula de líderes foi elogiada por especialistas em logística de grandes eventos. "Isso pode evitar os erros da COP27, no Egito, onde a presença maciça de autoridades no início gerou gargalos", afirmou Ana Cláudia Souza, consultora em sustentabilidade.
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Reações e próximos passos
A ONU já homologou o novo calendário, e países como Alemanha, Estados Unidos e Ilhas Marshall confirmaram presença na data revisada. O governo brasileiro, no entanto, enfrenta o desafio de garantir segurança e transporte para dois picos de atividade. A COP30 será não apenas um teste para as ambições climáticas globais, mas também para a capacidade do Brasil de orquestrar um evento que una urgência ambiental, diplomacia complexa e os olhos do mundo voltados para a Amazônia.